Macunaíma

(Brasil, 1969)
Comédia, 110 min. Direção e roteiro: Joaquim Pedro de Andrade. Com: Paulo José, Grande Otelo, Milton Gonçalves, Jardel Filho, Dina Sfat.

Grande Otelo na pele do anti-herói

Os anos 60 foram mesmo de ouro para o cinema nacional graças à efervescência do Cinema Novo e suas belas produções. Macunaíma se inclui nesse contexto. O filme de Joaquim Pedro de Andrade é uma adaptação da obra do consagrado escritor modernista Mario de Andrade. A saga, todos já sabem, é sobre um anti-herói (ou herói) que nasce preto e vira branco. Suas primeiras palavras são ditas apenas aos 6 anos de idade: “Ai, que preguiça!”. Junto com os irmãos, sai da selva em direção à cidade grande, aprontando todas.

A história sofreu uma espécie de atualização. A índia Ci, por quem Macunaíma é apaixonado, virou uma guerrilheira (Dina Sfat). Ela detém o muiraquitã, amuleto da sorte. Ao morrer, a pedra por acaso para nas mãos do industrial peruano Venceslau Pietro Pietra (Jardel Filho) e o herói tenta reavê-la de todas as formas.

Uma fita incomum dentro do Cinema Novo pelo tom bastante debochado e que chegou a influenciar o realizador alemão Werner Herzog em O Enigma de Kaspar Hauser (1974) quando da frase “Cada um por si e Deus contra todos”. Apesar das inovações, Joaquim Pedro de Andrade teve a preocupação de manter o espírito mario-andradino da coisa. Ele mesmo é quem faz a apresentação do filme, explicando durante 1 minuto a rapsódia brasileira.

Embora tenha enfrentado problemas com a censura da época, Macunaíma fez bastante sucesso. Grande Otelo encarna com maestria o herói de nossa gente na sua primeira fase, preta e infantil, assim como Paulo José na fase branca e adulta. Um clássico nacional, considerado o maior filme do diretor e que resistiu bem ao tempo.